imprensa/crítica - valter hugo mãe

 

«É logo nas primeiras páginas que o narrador exemplifica a sua condição de prisioneiro: «escapuli longo tempo a ver as entradas dos caminhos principais, sabia que todos se frustravam em algumas centenas de metros, nenhum seguia para onde eu pudesse ir sem me perder». O encarceramento a que todos parecem condenados numa terra propositadamente sem nome encontra um motivo de intensificação nas condições meteorológicas descritas, na chuva quase permanente, sem abertura para o céu, o que é uma outra forma de representar o silêncio de deus, que atravessa todo o romance.»

João Paulo Sousa , excerto de «O reino de cristal», JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, 2 fev. 2005


«Sentimo-nos assim no livro de valter hugo mãe : à deriva, às cabeçadas, em busca de espaço para fugir. Adorámos a experiência. E de masoquista temos muito pouco.»

Rui Lagartinho, excerto de «O importante é a rosa », sobre o nosso reino , Público, 22 jan. 2005


«Há uma nova presença importante na ficção portuguesa contemporânea. Falo de valter hugo mãe , jovem poeta já com livros publicados, que surge agora, numa escrita mágica, suave-cruel, entre paraíso e inferno, com o seu romance o nosso reino . É numa aldeia do Portugal nortenho, entre rezas, sustos e horrores triviais e o imenso medo, o tremendo fascínio da morte, que uma criança se confessa a todos nós.»

Urbano Tavares Rodrigues, excerto de «O mundo rural em duas obras de jovens escritores portugueses», Alentejo Popular, 20 jan. 2005


« o nosso reino , de valter hugo mãe , é uma obra encantatória de um digno herdeiro de uma longa tradição de escritores portugueses que fazem da nossa língua um instrumento de grande beleza plástica, descrevendo lugares e sentimentos enraizados na nossa cultura. Num universo rural, as personagens vivem uma existência em que as fronteiras entre o Mal e o Bem se cruzam numa dança poética e misteriosa.»

Helena Vasconcelos, Elle, jan. 2005


«No plano criativo e da qualidade de escrita, 2004 recentrou, de certo modo, a ficção nacional. Desde logo com o nosso reino , de valter hugo mãe (Temas e Debates), o primeiro romance do poeta – uma claridade do imaginário, um modo genial de abordar os credos e os medos das almas sempre em busca da salvação. Outros grandes momentos literários com eu Hei-de Amar Uma Pedra , de António Lobo Antunes, uma ficção singular, Gémeos , de Mário Cláudio, O Anjo da Tempestade , de Nuno Júdice (três obras da Dom Quixote). Ainda: Por Detrás da Magnólia , de Vasco Graça Moura (Quetzal) e Amar não Acaba , de Frederico Lourenço (Cotovia).»

Maria Augusta Silva, «Os melhores da colheita de 2004», Diário de Notícias, 29 dez. 2004


«Ou me engano muito (o que acontece muitas vezes, quando se está sob a influência dos deuses da leitura sôfrega) ou o romance o nosso reino , de valter hugo mãe (edição Temas e Debates), é uma das maravilhas deste final de ano. Se tivesse sido publicado nos anos setenta seria mais uma vítima do realismo mágico latino-americano; hoje, é uma fenda no meio do céu. Uma ventania.»

Francisco José Viegas , Aviz, 23 nov. 2004


«E soube mais: que estou em presença de um texto vital, de um logos específico, sem causalidade social, associal; que cada verso-palavra ou palavra-verso é o epicentro, a autonomia, a aprendizagem da fronteira e do limite simultaneamente; que a cofragem do poema abre algo susceptível de ser fechado, porém a perspectiva de procurar a chave seria um erro a não cometer. O poema é ele próprio, através do qual podemos imaginar a presença da atmosfera, envolvida no casulo da temperatura, tudo, aliás, cada vez menos presente no dramático livro a cobrição das filhas

Jorge Listopad, excerto do posfácio à segunda edição de três minutos antes de a maré encher , abr. 2004


«Estreado em 1996, com silencioso corpo de fuga , valter hugo mãe pode orgulhar-se de ter criado sozinho uma tendência da «poesia dos 90»: a da poesia arabesca, apoiada no metaforismo grotesco, um dos instrumentos mais poderosos do realismo, que expõe a saturação do real pelo seu lado a um tempo mais inocente e sinistro. (…) O que faz de a cobrição das filhas, livro que recusa o estatuto de compilação para se afirmar como Livro, um caso ímpar absolutamente notável entre as melhores criações da geração literária do autor.»

Luís Adriano Carlos, excerto de «Dois poetas e uma novena», Esquina do Mundo, 2003


«A poesia de valter hugo mãe é diabólica. Dialoga, de igual para igual, com mestres como Marquês de Sade e o conde Isidore Ducasse (...) Ao extrair poesia do ventre podre, do mal que habita em nós, o autor revela-se um verídico filho da mãe. Sem medo de pôr os pingos nos is.»

Alécio Cunha, Hoje Em Dia – Belo Horizonte, 5 Agosto 2003


«Como diria Chaplin, o sarcasmo e o riso serão os melhores antídotos contra a dor e o ódio, vhm sabe-o e os seus livros isso expressam de uma forma subterrânea e inteligente, doseando como poucos revolta e riso, dor e sarcasmo.»

Magazine Artes, sobre o livro útero , Junho 2003


«Estamos, em útero, de valter hugo mãe , longe de qualquer espécie de conformismo clássico, escolhido na base do justo meio. O autor ousa entrar, num tempo avesso a tais temáticas, no território da reflexão sobre o sagrado, sob a perspectiva de uma aparente, ou não, ausência de Deus no mundo, ou do seu silêncio. E a aproximação a um sentido do invisível que se torna, sobretudo na primeira parte do livro (o de uma voz luciferina), boschiana visão de pesadelo, faz-se não de forma melancólica ou dócil, mas ritualística, sendo as palavras usadas como objectos contundentes.»

Ana Marques Gastão , sobre o livro útero , Diário de Notícias, 15 Abril 2003


«Nesta última obra de valter hugo mãe , os poemas nascem no interior de duas ostras (capítulos). A primeira responde pelo nome “as viúvas são poços na imagem” e a segunda “os olhos encaracolados de sonho” – ambas prenhes de pérolas brancas e negras.»

Helder Silva Dantas, sobre o livro a cobrição das filhas , A Cabra, 13 Março 2002


«Digo propositadamente ‘livro' e não ‘recolha' ou coisa assim: o discurso único perpassa a composição. O contacto com a poesia do autor da jovem geração, e especificamente desse volume, apresenta-se fácil e difícil: procede pela dinâmica lacónica, porém musical (um ostinato de harmonia singular), todavia visível e objectal da memória-súbita. (...) A poesia madura em luta horizontal e vertical, contra o acaso.»

Jorge Listopad, sobre o livro a cobrição das filhas , JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, 20 Fevereiro 2002


Na sua beleza horrivelmente bela, este livro é fruto poeticamente maduro de uma visão terrífica da existência animalesca e da bestialidade sexual que tudo viola e mutila. Os versos finais do texto «temos uma definição segura» condensam a ironia da sua hipermoral: «existimos / como simples emanação / dos animais» (p. 21). A existência é uma ganadaria e um açougue, eis a leitura mais óbvia. Por isso as filhas da mãe são puras naturezas mortas do poema, fraquezas da carne deglutida pelos cães de Bosch e transformada em carcaça de Rembrandt.

Luís Adriano Carlos, excerto de «Naturezas mortas», posfácio ao livro a cobrição das filhas , dez. 2001


«A dimensão conotativa afasta valter hugo mãe de outros novíssimos: nem melancolia programática, nem misticismo (malgré Deus), nem excesso de complacência.»

Eduardo Pitta , sobre o livro estou escondido na cor amarga do fim da tarde , Ler, Outono 2001


«(...) sobressai o cuidado depositado em cada palavra, que possibilita um domínio pleno do poema que se adensa em sentidos.»

Rita Taborda Duarte, sobre o livro três minutos antes de a maré encher , Público, 22 Julho 2000


«O espaço entre duas ondas – Uma colecção de poemas cujas seduções litorais vêm questionar certos marasmos da recente poesia portuguesa»

Manuel de Freitas , sobre o livro três minutos antes de a maré encher , Expresso, 11 nov. 2000